sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Noa, Princesa Guerreira


Filhote, hoje não escrevo sobre ti. Escrevo para ti, sobre uma princesa. Chama-se Noa. Não, ela não vive num castelo (como rapidamente me vais perguntar).Vive num sitio muito mais importante: nos nossos corações, na nossa memória.
Ouve com atencão.

Conheci a mãe da Noa ha 20 anos. Eramos apenas duas adolescentes. Irrequietas, muito expressivas, e sempre de sorriso rasgado. Quis a vida nos juntar. E que privilegio...o meu. Muito rapidamente nos tornámos cúmplices de muita coisa, nas dificuldades e nas alegrias. Por circunstancias da vida, separámo-nos. Ela seguiu um caminho, e eu outro mas a amizade, essa, ficou para sempre. Uma amiga de metro e meio mas com um coração grandioso e generoso, como não se encontram muitos. 

Casamos, imigramos, tivemos filhos mas sempre em contacto uma com a outra...a internet tem destas coisas boas. Apesar disso, por varias vezes, tivemos a oportunidade de nos encontrarmos e matarmos saudades, contar as novidades, partilhar vitorias, simplesmente de estarmos...

Ainda me lembro de quando recebi a mensagem dela a contar que estava gravida. A poucos dias de irmos a Londres. Que alegria que foi!!! Como ela estava feliz. Como eles estavam felizes. E eu tão feliz por eles. 

Poucos meses antes, voltamos a encontrarmo-nos, ela minha barriguda pequenina, estava lindissima. Dela irradiava o mesmo sorriso de ha 20 anos. Sempre igual a ela propria. Nunca a conheci de outra maneira.

Essa princesa que veio, chamada Noa, tão amada, tão desejada desde o minuto um, foi um pequeno grande milagre nas suas vidas. Uma benção, tenho a certeza. Para eles, e para todos os que a rodeavam. Para mim tambem, ainda que aqui de longe. Apesar de todos os videos trocados, fotos, mensagens, seria este Natal que os iriamos abracar e conhecer, finalmente, esse pequeno anjo, de olhos grandes e tão expressivos, que transbordava amor, curiosidade. Tinha-te dito isso, filhote.
Com grande tristeza minha, já não chegámos a tempo.


Mas durante muito tempo, e contra a expectativa negativa de alguns que podiam não acreditar, a Noa venceu sempre. Passo a passo. Foi uma lutadora. Proporcionou aos papás, a nós amigos e desconhecidos que acompanharam também a sua causa, momentos em que nos mostrou que sempre foi forte e que não ia desistir facilmente. E isso, é um grande ensinamento para todos. 

Depois de uma luta incansavel, dia e noite, numa corrida contra o tempo, onde cada segundo conta, a vida traiu-a, ou as pessoas...não sei. Só consigo pensar que a vida é injusta. 
Onde é que nós falhámos com ela? Até onde se poderia ter ido para que ela estivesse agora connosco? E ao invés de recebermos a mensagem do dia do seu funeral, comecar o dia com uma mensagem em que a sua mamã nos diz que vais tomar o medicamento milagroso que te poderá ajudar ainda mais, que te trará outras possibilidades, outras oportunidades. Tu merecias tanto. Os teus pais mereciam isso.

Noa,
nesta hora que escrevo, estás tu meu anjo, a subir ao céu. E está um dia de sol a espreitar pela minha janela. Não poderia ser de outra forma. O sol a brilhar para ti.
Agora, é momento de te deixar partir, descansar. Voa para aquele lugar maravilhoso, onde possas correr muito, brincar ate ficares toda suja, construíres o teu próprio castelo e aí ficares a olhar por quem te deu tudo, por quem fez tudo, por quem te amou desde o primeiro minuto. Olha por eles, da-lhes forca neste momento, da-lhes a serenidade que eles precisam para, com o tempo, aceitar este desfecho mas que possam voltar a sorrir, depressa. Por ti. 
Eles merecem. São pessoas maravilhosas. São amigos muito especiais. Vania e Sergio. 
Estaremos aqui sempre convosco.




11.10.2019





terça-feira, 27 de agosto de 2019


'Mamã, o que vou aprender hoje?'

Um ano e meio depois do meu último post...aquando dos teus 3 anos.
Hoje escrevo-te para te dizer o quanto me enches de orgulho. Não porque não to diga já. Digo sim, muitas vezes. Mas quero que fique escrito. Para um dia mais tarde leres.

E muito se passou desde então. 
Cresceste. Tornaste-te mais autónomo, mais atento, mais curioso. Sim, mais!
Ontem, foi o teu primeiro dia de escola. A escola dos meninos grandes, como tu dizes. Onde não podes fazer birrinha.
Tu estavas lindo. Gel no cabelo. Ritual entre homens que o pai fez questão de partilhar contigo. De mochila às costas. Orgulhoso, confiante, entusiasmado, perguntando já tudo e mais alguma coisa. Eu estava forte por ti. Positiva, alegre. Mas la no fundo, estava super nervosa, ansiosa com todas estas mudanças, com medo de te deixar sozinho la naquela sala de aula com tantos meninos. Sem saber se irias conseguir desenrascar-te. No trajeto para a escola, relembrei-te de todos os conselhos que te tinha explicado e preparado nos últimos tempos mas acho que nem me ouviste. O brilho nos teus olhos era demasiado, a vontade de chegar depressa ao cimo das escadas era notória. 
Tive de te largar mais um bocadinho nesta nova fase. 
E tu lá ficaste contente a brincar, junto dos teus amiguinhos, pequeninos como tu. 
Quatro anos apenas e já neste rodopio das letras, dos números, dos desenhos, da música, da ginástica...

Não choraste, eu não chorei. 
Dou por mim a imaginar durante o dia o que estarás a fazer, se estarás em segurança, se estás a alimentar-te bem, se não te aleijaste...
Ainda que esteja imensamente orgulhosa do homenzinho que te tornaste, a nostalgia de como tudo passou tão depressa nestes anos é inevitável.
Hoje fui observar-te de longe sem que me visses, para ver se estavas bem. Podes chamar-me de maluca, se quiseres. Não me importo. Sou mãe. Um dia quando fores pai vais perceber. Mas estavas bem. É o mais importante. E eu fiquei feliz. 
Amanhã, é um novo dia. Novas aventuras.
Perguntas-me o que vais aprender. E chegas a casa com novas músicas, com novos desenhos e com tanto para contar que até te atrapalhas todo.

Que estejas sempre em segurança e feliz. Rodeado de gente que gosta de ti e que te quer bem. Nesta nova fase e nas que virão.
Estamos sempre aqui filhote, o pai e eu, para te guiarmos o melhor que sabemos.