quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Carta ao meu filho Gabriel


Meu amor,

hoje vi na televisão uma coisa que nunca pensei ver. Já tinha visto muitas imagens chocantes antes, já tinha ouvido muitas histórias que não quero acreditar que são reais. Fecho os olhos por momentos para apagar aquela imagem e não consigo. Talvez por ser mãe. De certeza por ser tua mãe. Aquela criança era pouco mais velha que tu. Três anos e certamente o sonho de um dia ser bombeiro, ser mecânico ou talvez professor...Para aquela criança a vida terminou ali, à beira-mar, sozinha. Uma vida perdida, uma família desfeita.
Não consegui evitar que as lágrimas me corressem pelo rosto abaixo, numa indignação profunda, num mal-estar doloroso que quase me fez vomitar. Como é possível a vida acabar assim? Aquela criança, eu sei, é uma entre muitas por esse mundo fora. Foi uma criança à qual não foi dada oportunidades. Não um bom emprego numa multinacional, a sorte de ganhar a lotaria, a felicidade de ter um carro topo de gama. Não. A essa criança não foi dada a oportunidade de poder brincar com um carrinho, a essa criança não foi dada a oportunidade de vestir uma agasalho durante a noite no frio, a essa criança não foi dada a oportunidade de, quem sabe, beber um último gole de água ainda que estivesse com sede. Para esta criança a vida era, assim, simples.
E nós, Gabriel, temos tudo. Temo-nos uns aos outros. E isso é o mais importante!
A ti, meu amor, desejo-te coisas grandes. Tens um infinito de oportunidades pela frente. Mas sabes o que te desejo mesmo mesmo? Que tenhas um coração generoso, amigo, que sejas feliz nas coisas grandes, mas sobretudo nas coisas pequenas. Que cresças feliz e saudável para de alguma forma fazeres a diferença na ajuda ao outro, no mundo. Que sejas GRANDE! 
Estes teus velhos pais vão estar ao teu lado, sempre, no melhor que sabemos e podemos.


Com amor
Sílvia