quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Onde vais com tanta pressa filho?

A passagem do tempo é inevitável, é saudável, faz bem e, às vezes, é preciso. Mas há momentos em que queria ter um comando mágico e fazer o tempo parar aqui e ali. Estou curiosa para o que aí vem, claro, para as novas descobertas (tanto para ti como para nós) mas sinto saudade do que foi ontem, há uma semana, há um mês. 

Sei que não te apercebes (ou talvez sim), mas às vezes, enquanto dormes, vou buscar-te à cama e enrosco-te a mim e ficamos ali sentados no cadeirão, a meia-luz. E eu fico ali simplesmente a ver-te dormir, a ouvir-te suspirar, a sentir a tua mão que volta e meia mexe (talvez à procura de mim). E queria parar tudo ali. Será que vai ser sempre assim?

Agora já estás crescido (9 meses). Fico impressionada com as coisas que aprendes a cada dia, com a rapidez com que nos imitas, como na tua cabeça já queres mexer um pé atrás do outro (ainda que muito atrapalhado). Como do nada começaste a bater palmas e agora sempre que ouves essa palavra a reconheces e fazes imediatamente o gesto. Fico francamente impressionada. E mais...4 dentes já! Sinal de que o tempo passa. Mais virão. As fraldas deixaram de ser as pequenitas, o leite já é para bebés crescidos, as roupas muitas delas deixaram de te servir...como o tempo passa a voar. A voar.

Onde queres ir tu com tanta pressa, meu filho? Fica aqui hoje só mais um bocadinho, amanhã avançamos orgulhosamente para novas coisas e eu vou ficar feliz, acredita! Tenho, temos, muita coisa para te ensinar. 

sábado, 17 de outubro de 2015

"Ser mãe é ser ninja".

Roubei esta frase a alguém mas parece-me tão adequada a todas a mães e aos pais que fazem de mãe e aos pais que fazem de mães e pais.

Sou da opinião que a profissão MÃE a tempo inteiro devia ser considerada profissão número um, altamente intitulada em Diário da República, com direito a subsídio de férias, subsídio de natal, paga com um salário bem simpático (sem descontos para impostos) e com direito a pequenos mimos tais como: spa completo duas a três vezes por ano, alguns dias à escolha para pôr o sono em dia e outros dois ou três dias para podermos comprar umas coisas bem giras. Porque afinal somos mães e que mais? Somos enfermeiras, somos cozinheiras, somos mulher da limpeza, somos motoristas, somos professoras e afins... e tudo isto a par com o nosso trabalho, quer estejamos bem, quer estejamos com uma gripe em cima, com dor de dentes ou simplesmente com sono. Estamos cá para as curvas e contra-curvas. Sempre a correr. Primeiro tudo e depois nós. 
Para ti, filho, primeiro tudo!


quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Carta ao meu filho Gabriel


Meu amor,

hoje vi na televisão uma coisa que nunca pensei ver. Já tinha visto muitas imagens chocantes antes, já tinha ouvido muitas histórias que não quero acreditar que são reais. Fecho os olhos por momentos para apagar aquela imagem e não consigo. Talvez por ser mãe. De certeza por ser tua mãe. Aquela criança era pouco mais velha que tu. Três anos e certamente o sonho de um dia ser bombeiro, ser mecânico ou talvez professor...Para aquela criança a vida terminou ali, à beira-mar, sozinha. Uma vida perdida, uma família desfeita.
Não consegui evitar que as lágrimas me corressem pelo rosto abaixo, numa indignação profunda, num mal-estar doloroso que quase me fez vomitar. Como é possível a vida acabar assim? Aquela criança, eu sei, é uma entre muitas por esse mundo fora. Foi uma criança à qual não foi dada oportunidades. Não um bom emprego numa multinacional, a sorte de ganhar a lotaria, a felicidade de ter um carro topo de gama. Não. A essa criança não foi dada a oportunidade de poder brincar com um carrinho, a essa criança não foi dada a oportunidade de vestir uma agasalho durante a noite no frio, a essa criança não foi dada a oportunidade de, quem sabe, beber um último gole de água ainda que estivesse com sede. Para esta criança a vida era, assim, simples.
E nós, Gabriel, temos tudo. Temo-nos uns aos outros. E isso é o mais importante!
A ti, meu amor, desejo-te coisas grandes. Tens um infinito de oportunidades pela frente. Mas sabes o que te desejo mesmo mesmo? Que tenhas um coração generoso, amigo, que sejas feliz nas coisas grandes, mas sobretudo nas coisas pequenas. Que cresças feliz e saudável para de alguma forma fazeres a diferença na ajuda ao outro, no mundo. Que sejas GRANDE! 
Estes teus velhos pais vão estar ao teu lado, sempre, no melhor que sabemos e podemos.


Com amor
Sílvia

terça-feira, 18 de agosto de 2015

4000 km de felicidade


Depois de alguma ansiedade (dá para ir, não dá para ir...porque às vezes a vida é complicada...), lá pôs o Gabrielzinho o pé dentro do carro rumo a Portugal. A mãe tinha-lhe dito que muita gente o aguardava, família e amigos, para o conhecer. A mãe tinha-lhe dito que era uma viagem longa, dura, cansativa mas que era a nossa terra! Sussurrou-lhe ao ouvido que lá podíamos sempre voltar, sempre!

O começo da viagem não foi fácil. Quando podiam finalmente seguir viagem, longas filas pela frente (num pára-arranca interminável), o Gabrielzinho começou a chorar, num choro que arrepia a alma e faz doer o coração: tinha fome. E a mãe sem o poder alimentar em segurança. Sem poder parar o carro numa berma. Quando finalmente foi possível, foi vê-lo numa velocidade quase animalesca a mamar este mundo e o próximo. Minutos depois adormeceu tranquilo que nem um príncipe e o coração de mãe pode finalmente acalmar.

Finalmente a chegada. Tantos mimos bons. Tanta coisa boa. Tanta gente boa. Sem dúvida que os ares de lá lhe fizeram bem. Toda a gente dizia o mesmo:
1) Que o Gabrielzinho era uma simpatia, sempre sorridente e bem-disposto.
2) E que não havia volta a dar: era a carinha do pai. A mãe dizia em tom de brincadeira: " Anda uma mãe a carregar um filho nove meses para depois sair ao pai". Agora a mãe diz: "E que lindo que saiu o filho".

Uma despedida nunca é fácil. Principalmente quando se tem muita coisa do outro lado. Mas vieram de lá com o coração cheio, com energias renovadas, e com vontade de voltar rapidinho para mais uns dias. A saudade, essa, aperta sempre.
A mãe pode mostrar ao pequeno Gabriel a terra onde viveu durante alguns anos, o Soutocico dos nossos corações. Agora somos Cidadãos do Mundo, mas esse cantinho vai ser sempre deles.


Obrigada família e amigos.
Um xi-coração especial para as crianças da minha vida.
Até breve.



quarta-feira, 29 de julho de 2015

G de Gabriel


A poucos dias de fazer seis meses (já????!!!), 
sete quilos de muito amor e muita dedicação.


Numa manhã de fevereiro, a caminho do número 21 da rua de Bugnon, lá seguíamos nós a pé com a mala prontíssima. Eu, o maridão e o pequeno Gabriel ainda no aconchego da mãe que cá fora fazia frio. Uma senhora que passou por mim apressada (sim, porque eu naquela altura já andava muito devagarinho) disse-me: Courage! Não me desfiz em lágrimas porque estava no meio da rua e com o frio que estava eram mesmo capazes de congelar. Sorri e agradeci. Era o dia!

Algumas horas depois, precisamente às 10h42, nascia um príncipe. Nos dias que antecederam o nascimento idealizei tantas vezes aquele momento: vou cantar para ele, vou-lhe dizer umas coisas ao ouvido...e quando esse momento chegou falharam as palavras. Não se consegue dizer nada. Só sentir. E sente-se tudo! Sente-se o mundo!

Não vou mentir e dizer que as horas seguintes foram fáceis. Pelo contrário. Mas se me perguntarem do que me quero lembrar só me quero lembrar do momento em que o vi chegar, já enroladinho na manta, ao colo do pai.

E desse dia até agora foi um salto. Diria mesmo um saltinho. Centenas de fraldas depois, roupa que deixou de servir rapidamente, umas noites mais duras que outras, dentinhos que já começam a chatear, o bebé sossegadinho do início deu lugar a um rapagão curioso, mexilhão, falador, atento, alegre. Muito alegre.

E o mundo pára quando ele sorri.